sexta-feira, 27 de junho de 2014

História da Espanha

Um Apanhado Sobre as Necessidades Comerciais
Em meados do século XV se iniciou uma crise de crescimento pela Europa. E as razões para isso podem ter sido as seguintes:adequação dos dois sistemas, o feudal (que predominava em toda a zona rural) e o capitalista (que predominava nos centros urbanos).
·                     A segunda razão se relacionava mais com o mercado internacional, que era principalmente abastecido pelos produtos do oriente. O grande número de intermediários tornava os produtos extremamente caros.
·                     Podemos considerar como um terceiro fato a falta de moedas na Europa, que eram escoadas para o Oriente no pagamento dos produtos e das especiarias.
Esses empecilhos ao crescimento só seriam superados se fossem encontrados novos mercados de produtos (principalmente alimentícios) e também novos consumidores de artesanato, atividade principal naquele período. 

Breve Panorama da Europa Mediterrânea na Época
Nos séculos XIII e XIV a peste negra dizimou mais de um terço da população européia, a fome, invadiu os campos, a Igreja Católica estava dividida e enfrentando algumas dissidências, inclusive pela diferença entre a opulência de setores eclesiásticos e a pobreza do povo. O humanismo estava surgindo a partir da Inglaterra, com ênfase no Homem e na esfera "imperfeita" das coisas da Terra.

Um Apanhado geopolítico da Europa Mediterrânea no início do século XV.  
Europa Mediterrânea no Século em Questão
A grande mudança em termos políticos na passagem para o século XV foi sem dúvida a formação das chamadas monarquias nacionais surgidas com a crise do feudalismo, enfraquecendo o poder local da nobreza e abrindo espaço para a ação política dos reis.
Podemos aqui enumerar alguns fatores que contribuíram para essa centralização do poder:
·                     Desenvolvimento Comercial e Urbano: A burguesia, nova classe social ligada ao comércio, tinha interesse nessa centralização do poder e numa unificação nacional, já que desejavam uma uniformização dos pedágios, pesos e medidas, moedas, ou seja, queriam ter condições para a conquista do mercado, principalmente o internacional.Além disso, a incorporação desses novos mercados poderia ser a única maneira de superar a crise do crescimento desse século XV.
·                     A Nobreza Busca a Ajuda do Rei: As condições extremamente desfavoráveis do final do século XIV e fatores como a peste por exemplo, que foi responsável pela morte de praticamente um terço da população européia, fizeram com que a escassez de mão de obra se tornasse um problema grave. Dessa maneira a opressão dos servos cresceu demais, o que certamente desencadeou uma série de revoltas camponesas.Com isso, a nobreza se sentiu obrigada a pedir o auxílio do rei, que numa situação como essas surgia como a única figura capaz de articular a aristocracia contra a massa.
Outros fatores também podem ser considerados como relevantes:
Península Ibérica:
·                     Existia a tradição da hereditariedade do poder real.
·                     O desenvolvimento do individualismo durante o renascimento pode ter criado a imagem de um rei verdadeiramente representante e protetor da nação.
  A Península passava por um momento de extrema importância em sua história. Após a expulsão dos muçulmanos da península formaram se os chamados estados independentes, como Aragão, Castela, Leão e também Navarra. Houve a separação de Leão do Estado de Portugal e da fusão dos quatro reinos restantes formou-se a Espanha em 1492.
Itália:
·                     As chamadas cidades - estado italianas já haviam conseguido sua autonomia dos senhores feudais no final do século XIII. A concorrência pelo mercado internacional gerava continuamente conflitos entre elas.
·                     A economia, apesar dos conflitos, era dinâmica e aberta ao mar. Uma prova disso é o acervo artístico gerado pelos excedentes da economia, que a tornaram o "berço do Renascimento Cultural", produzindo expoentes como Leonardo, Toscanelli, Michelangelo, e preparando o caminho para Galileu e Bruno.
    Por uma ou outra razão, a Itália, que mostrava condições para fazer a passagem do capitalismo comercial ao capitalismo industrial, não o fez. De outro lado, os conflitos contínuos entre as cidades, em particular entre Veneza (que dominava o comércio com o oriente) e as cidades da costa ocidental (Genova, Florença) acabou por dirigir o dinheiro dos bancos italianos à Península Ibérica, contribuindo para a realização dos "experimentos" do Infante D. Henrique. 

O Fim da Idade Média e a Ordem de Cristo
Os interesses econômicos para que se iniciasse uma expansão comercial e marítima expressavam os desejos e objetivos da burguesia mercantil, ansiosa em aumentar seus lucros. Já no plano político os interesses dessa classe eram o de apoio a centralização.
Mas onde conseguir um capital inicial para isso se até meados do século XV Portugal era um reino relativamente pobre?? (A riqueza nessa época se concentrava basicamente na Itália, Alemanha e Flandres)
Esse capital inicial, pelo menos uma grande porcentagem dele, veio provavelmente da rica Ordem de Cristo (antiga Ordem dos Templários)
Em 1098 Jerusalém foi conquistada pelos cristãos na primeira Cruzada, e em 1116 estava novamente cercada pelos árabes. Foi quando dois nobres franceses fizeram um voto de perpétua pobreza criando assim a ordem dos Cavaleiros Pobres de Cristo que depois veio a se chamar Ordem dos Templários.
A Ordem dos Templários era formada por monges guerreiros, suas normas eram secretas e só conhecidas na integridade pelo grão mestre da Ordem.
Tinham uma estrutura rígida: os iniciantes não tinham acesso às regras e conhecimentos da ordem. Tais conhecimentos somente lhes eram transmitidos à medida em que fossem promovidos, sempre em batalha.
Nessa época de Cruzadas os Templários receberam muitas propriedades por doação e herança, iniciando-se assim uma intensa atividade econômica. No interior de seus feudos introduziram algumas novidades como a criação de linhagem de cavalos em estábulos limpos. Instalaram uma rede de postos bancários ao longo de vários países: peregrinos que estavam a caminho da terra Santa podiam depositar seus bens em um certo ponto de partida, recebendo uma carta de crédito com o direito de retirar o equivalente em moeda local em outro posto.
Dessa forma conseguiram gerar quantias astronômicas de dinheiro e bens.
Com a queda da cidade Santa em 1244 e a expulsão das tropas cristãs na Palestina em 1291, a Ordem acabou sendo extinta por toda a Europa, menos em Portugal.
D. Deniz (1261-1325) decidiu garantir a permanência da Ordem em terras portuguesas sugerindo uma doação formal de todos os seus bens à coroa, mas nomeando um templário para cuidar deles. Em 1317 D. Deniz transferiu todo esse patrimônio para uma nova organização: A Ordem de Cristo. O Ensino de Ciência e as Universidades universidade de Salamanca na Espanha
Pode ser dito que, o que  conhecemos por Física hoje, só começou quando Galileu Galilei (1564-1642) implantou pela primeira vez o chamado método científico. Muitos historiadores apontam o ano de 1642 (ano da morte de Galileu e nascimento de Newton) como sendo o ano de nascimento da chamada Ciência Moderna.
Antes disso temos estudos na área de Astrologia, Matemática, mas muito mais desenvolvidos do que comumente se imagina. Pode se ter uma idéia mais clara consultando o trabalho escrito por Ptolomeu, em c. 150 DC conhecido como Almagest (O Maior). A Matemática era considerada uma das "artes maiores", juntamente com a Música e a Teologia. Era costumeiramente incluída no currículo de Medicina (Santillana68) nas Universidades européias em geral. Na Península Ibérica é possível que a Matemática de Ptolomeu tenha chegado mais tarde por obra dos conflitos entre muçulmanos e cristãos, já que foi através dos árabes que Almagest foi recuperado da Biblioteca de Alexandria.
Por exemplo em Portugal não existe nenhum tipo de documentação referente ao estudo de tais ciências antes do século XV. Nessa época em Portugal utilizava-se ainda a numeração romana; a numeração indo – arábica só foi introduzida no século em questão.
A Espanha parecia estar um pouco mais adiantada, já apresentando estudos referentes a Astronomia e Geometria.
É realmente possível que conhecimentos práticos desse tipo possam ter chegado à Portugal trazidos por astrólogos e cartógrafos judeus, como veremos, mas não às Universidades portuguesas.
No que se refere ao ensino, a instrução nos países cristãos ficava quase que em sua totalidade a cargo do clero, que o fazia em algumas catedrais, mosteiros e até mesmo universidades dirigidas pelo próprio clero. (Coimbra96)
Na Universidade de Coimbra ensinava-se  Direito e Medicina (o currículo de Medicina muitas vezes incluía a Matemática). Não se ensinava a Astronomia, por exemplo, por julgarem ser uma ciência de pouca utilidade pelo menos até aquele momento.
Nessa mesma época estava sendo ensinada a Astronomia na Universidade de Salamanca, na Espanha.
Existia uma certa diferença entre os principais centros Ibéricos de estudo da época:
A Escola Muçulmana de Córdoba e Sevilla tinha uma boa cultura de Aritmética, Álgebra e Geometria, mas as tratavam como ciências autônomas.
Na Escola Cristã de Toledo praticamente todo o estudo na área de Matemática girava em torno de sua aplicação à Astronomia.
E na Escola Portuguesa, fundada por D. Deniz (1261-1325), o estudo existia, mas era ainda mais restrito, visando apenas a aplicação de tais conhecimentos à náutica.  

 O Desenvolvimento da Instrumentação sob Influência da Náutica.
    Anteriormente a esse período a navegação era na maior parte de cabotagem, ou seja, seguindo o contorno da costa. Entretanto, na tentativa de contornar a costa africana os navegadores se viram obrigados a se afastar mais do continente, uma vez que já não se conseguia mais, a partir de um certo ponto, navegar perto da costa. Isto ocorria porque os ventos ali eram contrários, e impediam os navegantes a prosseguir a viagem. Era necessário se distanciar um pouco mais da costa para se conseguir bons ventos e, portanto, continuar a viagem. (manobra que viria a se chamar "A Volta do Mar")
Nessas novas viagens, os pilotos tiveram que recorrer ainda mais aos astros a fim de determinarem a latitude. Sabemos que o ponto de referência utilizado para medir a latitude era a estrela Polar (Coimbra96). Mas esse método de orientação por meio da estrela polar já não era mais aplicável quando se ultrapassava a linha do Equador. Os cosmógrafos propuseram então medir a latitude pela observação da altura do sol na sua passagem pelo meridiano do lugar. Existiam métodos antigos para essas medidas, como as tábuas das Índias e o astrolábio, que se desenvolveram muito nesse período.
 O astrolábio é um instrumento de origem grega, muito utilizado pelos árabes para diversos fins e cujo funcionamento estava minuciosamente descrito na obra "Libros del Saber de Astronomia" de Afonso X.
Os portugueses aparentemente utilizaram pela primeira vez esse método de determinação de latitude pelo judeu José Vizinho, que era um dos cosmógrafos de D. João II, em uma viagem a Guiné em 1485.(Coimbra96)
Para isso José Vizinho necessitava de uma tábua de declinações do Sol, e a conseguiu provavelmente com Abraão Zacuto, professor na universidade de Salamanca (Coimbra96). É possível que já existissem em Portugal desde as viagens de D. Pedro, irmão do Infante D. Henrique.
José Vizinho mantinha relações científicas com Abraão Zacuto, uma vez que esse fora seu mestre em Salamanca (Coimbra96). Mais tarde, em 1492, o próprio Zacuto veio para Lisboa para também ocupar o cargo de cosmógrafos do rei.
Provavelmente o astrônomo só veio para Portugal após a expulsão dos Judeus da Espanha, mas o que se sabe é que ele colaborou muito com os cosmógrafos portugueses (Coimbra96).

CRISTÓVÃO COLOMBO
O Almirante do Mar Oceano
Cristóvão Colombo era cardador de lã, cartógrafo, vendedor de livros, comprador de açúcar e marinheiro; era alto, bonito e de nariz aquilino; tinha as maçãs do rosto salientes, a face comprida salpicada de sardas, cabelos avermelhados, olhos azuis e um sorriso amável, que não refletia, porém, nenhum sentido humorístico da vida. Grande conversador que não desdenhava a auto-exaltação, era um homem decente, apesar da freqüência de suas descaídas, e a sua Descoberta da América foi o mais importante feito de coragem individual de toda a História.
Algumas das coesas que sabemos sobre Colombo são falsas. Por exemplo, o mito de que só ele acreditava que a Terra era redonda. Toda pessoa culta tinha essa crença! Ensinavam-na as escolas e as universidades. Havia mesmo, para quem quisesse comprar, globos terrestre, não muito diferentes dos que existem hoje em dia. Além disso, ao contrário do que indicam os retratos da época, Colombo nunca recorreu ao astrolábio para orientar-se. Navega por intuição e confiado em Deus e ninguém como ele para acertar com a entrada de um porto.
A partida de Colombo para o Ocidente foi uma empresa arriscada. Não foi porém, uma decisão tomada às cegas. Os portos da Europa andavam cheios de história de indivíduos que haviam efetuado tal viagem, no todo ou parte. Da Rainha da Sabá dizia-se que, viajando para o poente, transpuser a Espanha e adentrara-se pelo mar até à altura do Japão. Sete bispos portugueses, fugindo a perseguições, tinham ido parar numa ilha não distante de Cuba a que deram o nome de Antilha. E, naturalmente, Leif Ericsson já aportara são e salvo, com os seus patrícios noruegueses, numa parte do continente americano hoje conhecida por Nova Inglaterra.
Havia também um mapa traçado por um físico e astrônomo italiano chamado Toscanelli, considerado uma obra sólida e digna de confiança. Nele já aparecia a América corretamente situada. Além do que corpos humanos levados pela maré tinha dado às praias do Açores. Pareciam orientais, mas na verdade eram caraíbas. Troncos de árvores, que não podiam proceder da África, e nos quais se viam entalhaduras feitas à mão, tinha sido recolhidos do mar, assim como algas marinhas que só crescem na América.
Cristóvão Colombo nasceu em Gênova, em 1451. Era o filho mais velho de um acomodado tecelão e taberneiro. De suas atividades até aos 23 anos sabe-se apenas que cardara lã, manejara o tear e saíra para o mar. Sendo Gênova uma grande cidade-estado de comércio marítimo, cujo porto vivia coalhado de navios, um jovem ambicioso teria ali oportunidade de aprender as artes da navegação e da cartografia.
Existem relatos escritos de vários cruzeiros de Colombo, mas o mais feliz de todos foi o que o levou às praias de Portugal. Ia, como marinheiro, a bordo de um navio rumo ao Oriente quando o barco foi atacado e afundado por uma frota portuguesa. Embora ferido, Colombo jogou-se ao mar, nadando até à costa de Lagos, de onde mais tarde seguiu para Lisboa. Corria o ano de 1476. Lisboa era então um lugar excelente para todos os homens que sonhavam com o mar, pois para ali convergiam os marinheiros que se julgavam capazes de abrir novas rotas. Aí encontravam estímulo e abrigo os mais arrojados projetos de exploração. E era também onde se aprendia matemática, astronomia e construção naval — conhecimentos indispensáveis a um navegante completo. Colombo e o seu irmão Bartolomeu abriram um escritório para os desenhos de mapas e não se deram mal. Depois Colombo casou-se com uma rica herdeira que tudo fez para prende-lo à terra e converte-lo em pacato ornamento da comunidade.
Ele, porém, aferrava-se à sua idéia, ou melhor, à obsessão de que poderia chegar ao Oriente pelo caminho do Ocidente. Era um pensamento que o absorvia, não lhe dava trégua. Esta é a diferença entre Colombo e os seus contemporâneos. Estava convencido. Ele sabia. Queria partir. Mas seria forçado a esperar muito, antes que alguém se dispusesse a fornecer-lhe navios. E enquanto aguardava, falava de sua idéia a quem quer que quisesse ouvi-lo.
D. João II, Rei de Portugal, interessou-se pelo assunto e submeteu o projeto de Colombo a uma junto de sábios. Estes condenaram a idéia. O Rei, porém, só deixou de lado o genovês quando Bartolomeu Dias, dobrando o Cabo da Boa Esperança, abriu o caminho de leste aos fabulosos tesouros do Oriente. Desde então, D, João II se desinteressou por completo do caminho do Ocidente.
Quando lhe morreu a esposa, Colombo gastou a maior parte de suas economias nas suntuosidades do enterro. Em seguida, embarcou para a Espanha. Mas Fernando e Isabel, empenhados numa dispendiosa guerra com os mouros, deram apenas meio ouvido à proposta do genovês. A Rainha, entretanto, tomou-se imediatamente de simpatia por ele, concedendo-lhe uma pensão — espécie de depósito por conta de seus futuros empreendimentos — enquanto a junta de notáveis do Reino estudava o assunto.
A pensão não montava a muito, porém era suficiente para que o não desanimasse. Depois de um ou dois anos, porém, a pensão foi suspensa e ele foi obrigado a manter-se durante os oito anos seguintes com o produto da venda de livros e dos mapas que confeccionava, enquanto aguardava o fim da guerra com os mouros. Seus cabelos ficaram brancos e foi atacado pelo artritismo. Sua capa e os seus sapatos eram tão esburacados que não lhe permitiam sair à rua nos dias de chuva. Mas não desesperou e continuou a falar sempre no seu sonho.
Em janeiro de 1492, desiludido com a Espanha, resolveu tentar a sorte na França. Em caminho, fez escala num mosteiro junto ao porto de Palos de La Frontera, onde manteve longa conversação com um prior. Este, impressionado com os seus planos, conseguiu-lhe uma audiência com a Rainha. Embora os sábios de Isabel já houvessem anteriormente desaprovado a proposta de Colombo, a Rainha o ouviu atentamente e declarou que a idéia lhe era agradável. Achou, contudo, que o preço do descobrimento era um pouco alto: Colombo pedia para si e seus herdeiros o título de Almirante do Mar Oceano, o cargo de vice-rei de todas as terras que descobrisse e dez por cento sobre todos os tesouros que arrecadasse. Como Isabel fizesse restrições a tais termos, Colombo agradeceu-lhe a atenção e retomou o caminho da França. Depois de seis anos de espera, ainda não estava para regateios.
Entretanto, Luís Santágenel, que tinha a seu cargo o tesouro privado da Corte, incitou Isabel: "Seja qual for o dinheiro de que Vossa Majestade venha a precisar, eu o suprirei pessoalmente. Que pode Vossa Majestade perder? E considere o que pode ganhar em troca: milhares de convertidos à nossa Santa Fé, glória para a Espanha e ouro." A Rainha imediatamente despachou emissários em busca do viajante.
As três caravelas de Colombo — a Santa Maria, a Pinta e a Niña — eram barcos pequenos mas sólidos que, com bom tempo, faziam a média de seis a sete nós, podendo também navegar a remo durante as calmarias. Havia em cada nau uma cabina para o capitão, mas a tripulação dormia na coberta. Uma vez por dia fazia-se fogo no fogão a lenha, de onde saía a comida quente, recendente a alho, que era servida em dois turnos ao pessoal de bordo. Media-se o tempo por meio de ampulhetas que os serventes de convés viravam regularmente.
Nas três caravelas iam uns 87 homens, entre os quais três médicos, um criado para Colombo, um intérprete e um enviado da Rainha para inventariar o ouro e as pedras preciosas que fossem embarcadas. A música era provida principalmente pelos serventes do convés que entoavam canções populares quando serviam as refeições ou viravam as ampulhetas. À noite a tripulação se reunia e cantava hinos religiosos.
Ao contrário do que revela a maioria das histórias, esses marujos não tinham saído das cadeias da Espanha, se bem que um deles tivesse cometido um assassinato. Na sua maioria, eram bons rapazes de aldeia que haviam aprendido a arte de navegar saindo para o mar sempre que se lhes apresentasse uma oportunidade.
A perícia de Colombo, como marinheiro, tem despertado a admiração de quantos lhe sucederam nas lides da navegação. Cometeu alguns erros, é verdade, mas eles foram devidos em grande parte à falta de instrumentos adequados. Os portugueses, nas suas tentativas de descobrir a América, navegavam demasiadamente para o norte, onde os apanhavam os temporais bravios do Ocidente; Colombo, porém, rompeu diretamente para o sul, apanhando assim os ventos propícios que haviam de conduzi-lo para o outro lado do oceano. Levou exatamente 33 dias para fazer a travessia. Ao darem com as águas cobertas de algas do Mar de Sargaços, os outros capitães insistiram com ele para que mudasse de rumo e fosse à procura de uma ilha. Colombo, porém, manteve-se irredutível, e continuou a navegar na direção do poente. Só uma vez alterou o rumo no sentido do sul — isto para acompanhar um bando de pássaros que, em sua acertada opinião, devia estar voando rumo à terra. Não fora essa mudança de direção, a frota teria ido para nos recifes da Flórida.
A 10 de outubro, quando a tripulação, que nunca passara tantos dias velejando em alto-mar, ameaçou amotinar-se, ele a reuniu e prometeu: "Se dentro do dois dias não encontrarmos terra, voltarei."
A 12 de outubro, a flotilha pela primeira vez tocava terra na Ilha de Guanahani — do grupo da Bahamas — a que Colombo deu o nome de San Salvador (hoje ilha de Watlings, nas Bahamas). Ali ajoelhou-se para render graças ao Senhor, e com muita solenidade tomou posse da terra em nome dos Reis Católicos Fernando e Isabel. os naturais, nus, simples e amistosos, acompanharam atentamente a cerimônia.
"São tão ingênuos, tão livres e despreocupados do que têm", escreve Colombo, "que ninguém que possuem e mostram tanto amor no oferecimento que dir-se-ia porem na amizade todo o coração, e ficam contentes com a menor bagatela que se lhes de." Esses indígenas foram identificados como Tainos, raça já desaparecida.
A respeito dos dois primeiros dias em terra, escreveu Samuel Morison em sua biografia de Colombo: Assim terminaram às 48 horas da mais maravilhosa experiência já vivida por qualquer homem do mar. Outras descobertas terão sido mais espetaculares do que a desta pequena ilha plana e arenosa. Mas foi ali que o oceano pela primeira vez libertou a cadeia dos acontecimentos, como o profetizara Sêneca, e revelou o segredo que vinha desconversando os europeus desde que estes começaram a inquirir o que se ocultava para além dos horizontes ocidentais. San Salvador, surgindo do mar ao cabo de 33 dias de navegação para o poente, superava de muito as passadas aventuras. Cada árvore, cada planta em que os espanhóis punham os olhos, constituía para eles novidades, e os naturais — falando uma língua desconhecida, e diferentes de todas as raças de que tenha tido notícia os maiores iniciados em relatos de viajantes, de Heródoto a Marco Pólo — eram não somente estranhos, mas coisa com que absolutamente não contavam. Nunca mais poderá agora um mortal nutrir a esperança de recapturar o assombro, a maravilha desses dias de outubro de 1492.
De San Salvador, Colombo navegou para o sul, descobriu nove ilhas entre as quais Cuba, onde os homens fumavam charutos, colocando uma das pontas do nariz e inalando profundamente. Por fim, desembarcou em Hispaniola — a ilha em que se acham hoje situados o Haiti e a República Dominicana — e ali não pode mais conter a tripulação, que violentou mulheres e roubou-lhes ornamentos. Ali Colombo decidiu deixar em terra uma colônia de 40 homens num local a que deu o nome de Isabel, na costa setentrional da ilha. (Não tornou, porém, a vê-los e presume-se que tenham sido mortos pelos índios.) Colombo dirigiu-se então para o norte, aproveitando os ventos do oeste, e, por fim, chegou à Espanha.
O seu relato dando conta de sua aventura produziu sensação. Sua marcha triunfal pelas cidades espanholas, exibindo o ouro, os papagaios e os índios que seqüestrara no Novo Mundo foi o momento culminante de sua carreira. Mas quando se ajoelhou diante do Rei Fernando e da Rainha Isabel e eles o convidaram a sentar-se a seu lado, seu orgulho não teve limites. Deram-lhe tudo quanto tinha prometido e insistiram com ele para que se aprestasse para nova partida.
A prova do ovo de Colombo, de que tanto se fala, verificou-se por ocasião de um banquete que lhe foi oferecido pelo Grande Cardeal da Espanha. Um dos convivas, já embriagado, disse que se Colombo não tivesse feito a descoberta, outro, naturalmente um espanhol, a faria. Em resposta, Colombo apanhou um ovo e desafiou os circunstantes para o colocarem de pé sobre a mesa. Ninguém conseguiu e Colombo, com golpe suave, quebra ligeiramente a casca do ovo numa das extremidades e este se mantém na vertical. Fez assim compreender a todos que, uma vez mostrando o caminho, como ele o fizera, nada era mais fácil do que repetir a façanha.
De certo modo, a segunda viagem constituiu para Colombo um desastre, porque veio revelar o erro grave em que incorrera, deixando uma colônia em Isabel. Tornou-se evidente ainda que não sabia enfrentar a insubordinação e que tratava alternadamente os seus homens com demasiada brandura ou excessiva brutalidade.
Ao empreender a terceira viagem, foi acompanhado por um juiz que declarou culpado de vários crimes. Voltou para a Espanha a ferros, mas a Rainha, indignada com isto mandou pô-lo imediatamente em liberdade. Entretanto, quando Colombo reclamou o décimo que lhe fora prometido antes da primeira viagem, os Reis fizeram ouvidos de mercador. Finalmente, em 1502, deram-lhe quatro navios para a sua quarta e última viagem. Desta vez ele descobriu o continente sul-americano, mas em virtude de sua preocupação de encontrar uma passagem para o Pacífico, deixou para trás duas coisas que muito poderiam recomendá-lo à estima da Corte — os pesqueiros de pérolas nas costas de Honduras e uma das mais ricas minas de ouro do mundo. Ademais, os homens se amotinaram e por pouco não o mataram. Reduzido ao leito pela artrite, com os navios avariados, foi forçado a aguardar uma expedição de socorro.
Nesse ínterim, deixa de existir a sua boa amiga, a Rainha, e Fernando, que não morre de amores por ele, não tomou conhecimento de seus pedidos de dinheiro para pagamento da tripulação. Finalmente, ainda arrasado pela artrite, foi procurar o Rei. Fernando ofereceu-lhe em troca do título de Almirante do Mar Oceano e dos demais privilégios, um ducado lucrativo. Colombo recusou. Ou tudo ou nada. Ficou sem nada.
No fim de seus dias, pensava ainda haver atingido as Índias, e que o palácio do Grão-Cã devia estar em algum lugar na Costa Rica. Não queria apenas riquezas; queria também descobrir o caminho que o conduziria aos lugares referidos por Marco Pólo — aos palácios habitados por sutões, com todas as delícias e confortos da civilização.
Eis, em suma, a história do homem que acresceu, direta ou indiretamente, aos domínios da Espanha mais terras do que os seus reis jamais imaginaram existissem, e cujo descobrimento voltou para o Ocidente os olhares da Europa.
Morre Colombo aos 55 anos de idade, pobre e sem ter ninguém para lhe chorar a morte, porém a sua figura heróica cada vez mais se agiganta com passar dos séculos.

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