Pedro, o
Eremita, e a Cruzada Popular.
Um
contemporâneo de Pedro, o Eremita, assim o descreve:
"Ia ele descalço, levava sobre a pele uma
túnica de lã e (por cima) um longo hábito. O pão era seu único alimento, com um
pedaço de peixe às vezes; nunca bebia vinho... Algo de divino sentia-se em seus
menores movimentos, em todas as suas palavras; chegava ao ponto de o povo
arrancar, para guardá-los como relíquias, os pêlos do mulo que ele montava...”.
"Os
condes e os cavaleiros pensavam ainda nos seus preparativos, e já os pobres
faziam os seus com tal ardor que nada podia deter... Todos deixavam as suas
casas, a sua vinha, o seu patrimônio, vendiam-nos a baixo preço e partiam
alegres... Apressavam-se em converter em dinheiro tudo o que não podia servir
durante a viagem... Pobres ferravam os bois como cavalos e atrelavam-nos a
carretas em que colocavam algumas provisões e seus filhinhos, que arrastavam
atrás de si. E essas crianças, assim que percebiam um castelo ou uma cidade,
perguntavam logo se era ali essa Jerusalém para a qual caminhavam... As
crianças, as velhas, os velhos preparavam-se para a partida; sabiam muito bem
que não combateriam, mas esperavam serem mártires. Diziam eles aos guerreiros:
Vós sois valentes e fortes, combatereis; nós sofreremos com o Cristo e faremos
a conquista do céu." (Issac, J. e Alba, A. História universal - Idade
Média).
Pedro, o Eremita, foi um monge que, junto com um nobre sem terras,
Gautier, Sans-Avoir ("Sem Vintém"), organizou a Primeira Cruzada.
As invasões germânicas no século V haviam consumado a destruição do
Império Romano. A Europa Ocidental mergulhou em uma crise econômica, política e
social. A invasão muçulmana, no século VIII, aprofundou essa crise. No século
IX, ocorreram as últimas invasões bárbaras. Findas tais invasões, a Europa foi
envolvida por um período de relativa tranqüilidade, embora cercada por outros
povos em todos os lados. Nestas circunstâncias, houve um grande aumento
populacional no continente. A estrutura do sistema feudal não incorporava essa
nova população. A produção econômica nos moldes do feudalismo não produzia excedente.
A população sem terra ou trabalho sobrevivia através do banditismo, saques ou
alguma atividade comercial.
A aliança entre a espada e a cruz
Surgiram como uma contraofensiva para romper o cerco muçulmano. Mas
foram, ao mesmo tempo, uma forma de aliviar as pressões demográficas que
ameaçavam destruir o feudalismo.
A crise do sistema feudal refletira-se na cultura, acentuando o
sentimento religioso. A sociedade medieval era essencialmente religiosa. Sendo
incapaz de compreender e encontrar cientificamente os meios de superação da
crise, interpretou-a de um ponto de vista religioso. Assim, fiel ao sentimento
religioso, a sociedade procurou, nas Cruzadas, uma possível solução para seus
problemas. Porém, a religião não explica por si mesma este movimento. Como já
citei anteriormente, as Cruzadas teriam sido impossíveis sema crise do sistema
feudal, que marginalizou a mão-de-obra militar, indispensável à realização das
campanhas militares.
Mas não se pode ignorar o aspecto religioso das Cruzadas. A
espiritualidade e o sentimento religioso do homem medieval eram muito fortes.
Ele era antes de tudo um fiel servidor de Deus e da Igreja. E se as Cruzadas
representavam para ele uma satisfação material, representavam também o
cumprimento de uma obrigação religiosa. Combater o infiel muçulmano era uma
ação santa e representava a possibilidade de salvação eterna, garantida pelas
indulgências oferecidas pela Igreja aos cruzados.
Organização
de uma Cruzada - França
Para a Igreja Romana, as Cruzadas se configuravam como um instrumento de expansão
do Cristianismo, do estabelecimento da supremacia do Papado sobre o Império e
da expansão de sua influência religiosa, por meio da conquista dos locais
santos da Ásia Ocidental.
O Império Bizantino, pressionado por inimigos externos, via nas Cruzadas
uma forma de conter o avanço dos turcos sobre seus territórios. Alguns setores
da nobreza tinham nas Cruzadas a perspectiva de conquistar terras e fortuna.
Estava difícil na Europa obter novos feudos. O primogênito herdava o feudo do
pai, mas os irmãos mais novos ficavam sem terras. Esses nobres deserdados viam
com muito interesse a possibilidade de conquistar terras em outras regiões.
As cidades comerciais italianas de Veneza, Pisa e Gênova consideravam as
Cruzadas um instrumento de reabertura do Mediterrâneo. Também ambicionavam
conquistar entrepostos comerciais situados na Ásia Ocidental. Por fim, os
setores marginais da população européia, não incorporados ao sistema feudal,
buscavam, através das Cruzadas, uma forma de conquista de terras que os
reintegrasse ao processo produtivo.
O movimento teve como causa imediata o bloqueio à peregrinação dos
cristãos ao Santo Sepulcro (túmulo de Cristo em Jerusalém), dominado pelos
turcos.
Cruzada:
Guerreiros cristãos contra muçulmanos
Paralelamente às Cruzadas, que investiram para o Oriente, foram
realizadas expedições chamadas Cruzadas do Ocidente, que tinham como objetivo
expulsar os muçulmanos da Península Ibérica e do sul da Itália.
Em 711, os árabes muçulmanos, comandados por Tarik, haviam conquistado a
Península Ibérica. Submeteram toda a península, com exceção das Astúrias. Ali
formaram-se os pequenos reinos cristãos de Leão, Castela, Aragão e Navarra.
Estes reinos iniciaram, no século XI, a Guerra de Reconquista. Nobres
franceses, como Henrique e Raimundo de Borgonha, em busca de terras e de
glória, lideraram a luta contra os muçulmanos. Os reinos cristãos expandiram-se,
passando a ameaçar o califado de Córdoba. Nas terras reconquistadas aos
muçulmanos, doadas ao clero ou incorporados pela nobreza, implantou-se uma
estrutura feudal de produção. Da Guerra de Reconquista resultou a formação das
monarquias nacionais de Portugal e Espanha.
Na Itália, os muçulmanos haviam conquistado a Sicília, a Córsega e a
Sardenha. O Mediterrâneo fora bloqueado à navegação e ao comércio dos europeus.
A Guerra de Reconquista teve início no século X. O contato entre cristãos e
muçulmanos, de início bélico, assumiu lentamente um caráter mercantil. Entre comerciantes, fossem eles cristãos ou
muçulmanos, sempre se encontrava uma forma de acordo. Em vez de desperdiçar o
capital na guerra, procuravam reproduzi-lo pelo comércio. A Guerra de Reconquista
na Itália levou à reabertura do Mediterrâneo para os europeus. As trocas foram
ampliadas e diversificadas, facilitando o reatamento das relações entre
Ocidente e Oriente.
Muçulmanos
numa Cruzada, século XII.
Não eram raras as peregrinações de cristãos ao Santo Sepulcro. Os califas
árabes não se opunham às visitas, que acabavam sendo lucrativas para os
muçulmanos. No entanto, na segunda metade do século XI, os turcos dominaram
grande parte da Ásia Ocidental. Este
povo tinha como região natal o Turquestão, que a bem pouco tempo fazia parte
das repúblicas que compunham a antiga União Soviética. Possuíam algum
parentesco com os hunos, povo que invadiu a Europa no século V. Rapidamente, os
turcos assimilaram a fé muçulmana. Uma de suas tribos, os seldjúcidas, ocupou a
Mesopotâmia, a Síria, a Palestina, parte do planalto da Ásia Menor, chegando
inclusive à Península dos Balcãs. Na
Terra Santa, os turcos seldjúcidas expulsaram os cristãos e proibiram suas
peregrinações ao local.
Sob o pretexto de libertar a Terra Santa e impedir o avanço muçulmano na
Europa Oriental, o papa Urbano II incentivou a Primeira Cruzada.
Fonte: http://cavalaria.espiritual.vilabol.uol.com.br/cruzadas.htm
Imagem: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cruzada
Fonte: http://cavalaria.espiritual.vilabol.uol.com.br/cruzadas.htm
Imagem: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cruzada
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