segunda-feira, 30 de abril de 2012

Cruzadas 1/2



Fonte: Camelot Home Page®

 
Pedro, o Eremita, e a Cruzada Popular.

 Um contemporâneo de Pedro, o Eremita, assim o descreve:

 "Ia ele descalço, levava sobre a pele uma túnica de lã e (por cima) um longo hábito. O pão era seu único alimento, com um pedaço de peixe às vezes; nunca bebia vinho... Algo de divino sentia-se em seus menores movimentos, em todas as suas palavras; chegava ao ponto de o povo arrancar, para guardá-los como relíquias, os pêlos do mulo que ele montava...”.
"Os condes e os cavaleiros pensavam ainda nos seus preparativos, e já os pobres faziam os seus com tal ardor que nada podia deter... Todos deixavam as suas casas, a sua vinha, o seu patrimônio, vendiam-nos a baixo preço e partiam alegres... Apressavam-se em converter em dinheiro tudo o que não podia servir durante a viagem... Pobres ferravam os bois como cavalos e atrelavam-nos a carretas em que colocavam algumas provisões e seus filhinhos, que arrastavam atrás de si. E essas crianças, assim que percebiam um castelo ou uma cidade, perguntavam logo se era ali essa Jerusalém para a qual caminhavam... As crianças, as velhas, os velhos preparavam-se para a partida; sabiam muito bem que não combateriam, mas esperavam serem mártires. Diziam eles aos guerreiros: Vós sois valentes e fortes, combatereis; nós sofreremos com o Cristo e faremos a conquista do céu." (Issac, J. e Alba, A. História universal - Idade Média).
Pedro, o Eremita, foi um monge que, junto com um nobre sem terras, Gautier, Sans-Avoir ("Sem Vintém"), organizou a Primeira Cruzada.
As invasões germânicas no século V haviam consumado a destruição do Império Romano. A Europa Ocidental mergulhou em uma crise econômica, política e social. A invasão muçulmana, no século VIII, aprofundou essa crise. No século IX, ocorreram as últimas invasões bárbaras. Findas tais invasões, a Europa foi envolvida por um período de relativa tranqüilidade, embora cercada por outros povos em todos os lados. Nestas circunstâncias, houve um grande aumento populacional no continente. A estrutura do sistema feudal não incorporava essa nova população. A produção econômica nos moldes do feudalismo não produzia excedente. A população sem terra ou trabalho sobrevivia através do banditismo, saques ou alguma atividade comercial.


A aliança entre a espada e a cruz
Surgiram como uma contraofensiva para romper o cerco muçulmano. Mas foram, ao mesmo tempo, uma forma de aliviar as pressões demográficas que ameaçavam destruir o feudalismo.
A crise do sistema feudal refletira-se na cultura, acentuando o sentimento religioso. A sociedade medieval era essencialmente religiosa. Sendo incapaz de compreender e encontrar cientificamente os meios de superação da crise, interpretou-a de um ponto de vista religioso. Assim, fiel ao sentimento religioso, a sociedade procurou, nas Cruzadas, uma possível solução para seus problemas. Porém, a religião não explica por si mesma este movimento. Como já citei anteriormente, as Cruzadas teriam sido impossíveis sema crise do sistema feudal, que marginalizou a mão-de-obra militar, indispensável à realização das campanhas militares.
Mas não se pode ignorar o aspecto religioso das Cruzadas. A espiritualidade e o sentimento religioso do homem medieval eram muito fortes. Ele era antes de tudo um fiel servidor de Deus e da Igreja. E se as Cruzadas representavam para ele uma satisfação material, representavam também o cumprimento de uma obrigação religiosa. Combater o infiel muçulmano era uma ação santa e representava a possibilidade de salvação eterna, garantida pelas indulgências oferecidas pela Igreja aos cruzados. 
Organização de uma Cruzada - França
Para a Igreja Romana, as Cruzadas se configuravam como um instrumento de expansão do Cristianismo, do estabelecimento da supremacia do Papado sobre o Império e da expansão de sua influência religiosa, por meio da conquista dos locais santos da Ásia Ocidental.
O Império Bizantino, pressionado por inimigos externos, via nas Cruzadas uma forma de conter o avanço dos turcos sobre seus territórios. Alguns setores da nobreza tinham nas Cruzadas a perspectiva de conquistar terras e fortuna. Estava difícil na Europa obter novos feudos. O primogênito herdava o feudo do pai, mas os irmãos mais novos ficavam sem terras. Esses nobres deserdados viam com muito interesse a possibilidade de conquistar terras em outras regiões.
As cidades comerciais italianas de Veneza, Pisa e Gênova consideravam as Cruzadas um instrumento de reabertura do Mediterrâneo. Também ambicionavam conquistar entrepostos comerciais situados na Ásia Ocidental. Por fim, os setores marginais da população européia, não incorporados ao sistema feudal, buscavam, através das Cruzadas, uma forma de conquista de terras que os reintegrasse ao processo produtivo.
O movimento teve como causa imediata o bloqueio à peregrinação dos cristãos ao Santo Sepulcro (túmulo de Cristo em Jerusalém), dominado pelos turcos.
 

Cruzada: Guerreiros cristãos contra muçulmanos
Paralelamente às Cruzadas, que investiram para o Oriente, foram realizadas expedições chamadas Cruzadas do Ocidente, que tinham como objetivo expulsar os muçulmanos da Península Ibérica e do sul da Itália.
Em 711, os árabes muçulmanos, comandados por Tarik, haviam conquistado a Península Ibérica. Submeteram toda a península, com exceção das Astúrias. Ali formaram-se os pequenos reinos cristãos de Leão, Castela, Aragão e Navarra.
Estes reinos iniciaram, no século XI, a Guerra de Reconquista. Nobres franceses, como Henrique e Raimundo de Borgonha, em busca de terras e de glória, lideraram a luta contra os muçulmanos. Os reinos cristãos expandiram-se, passando a ameaçar o califado de Córdoba. Nas terras reconquistadas aos muçulmanos, doadas ao clero ou incorporados pela nobreza, implantou-se uma estrutura feudal de produção. Da Guerra de Reconquista resultou a formação das monarquias nacionais de Portugal e Espanha.
Na Itália, os muçulmanos haviam conquistado a Sicília, a Córsega e a Sardenha. O Mediterrâneo fora bloqueado à navegação e ao comércio dos europeus. A Guerra de Reconquista teve início no século X. O contato entre cristãos e muçulmanos, de início bélico, assumiu lentamente um caráter mercantil.  Entre comerciantes, fossem eles cristãos ou muçulmanos, sempre se encontrava uma forma de acordo. Em vez de desperdiçar o capital na guerra, procuravam reproduzi-lo pelo comércio. A Guerra de Reconquista na Itália levou à reabertura do Mediterrâneo para os europeus. As trocas foram ampliadas e diversificadas, facilitando o reatamento das relações entre Ocidente e Oriente. 

Muçulmanos numa Cruzada, século XII.
Não eram raras as peregrinações de cristãos ao Santo Sepulcro. Os califas árabes não se opunham às visitas, que acabavam sendo lucrativas para os muçulmanos. No entanto, na segunda metade do século XI, os turcos dominaram grande parte da Ásia Ocidental.  Este povo tinha como região natal o Turquestão, que a bem pouco tempo fazia parte das repúblicas que compunham a antiga União Soviética. Possuíam algum parentesco com os hunos, povo que invadiu a Europa no século V. Rapidamente, os turcos assimilaram a fé muçulmana. Uma de suas tribos, os seldjúcidas, ocupou a Mesopotâmia, a Síria, a Palestina, parte do planalto da Ásia Menor, chegando inclusive à Península dos Balcãs.  Na Terra Santa, os turcos seldjúcidas expulsaram os cristãos e proibiram suas peregrinações ao local.
Sob o pretexto de libertar a Terra Santa e impedir o avanço muçulmano na Europa Oriental, o papa Urbano II incentivou a Primeira Cruzada.
Fonte: http://cavalaria.espiritual.vilabol.uol.com.br/cruzadas.htm
Imagem: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cruzada

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