Um Apanhado Sobre as Necessidades Comerciais
Em meados do século XV se iniciou uma
crise de crescimento pela Europa. E as razões para isso podem ter sido as
seguintes:adequação dos dois sistemas, o feudal (que predominava em toda a zona
rural) e o capitalista (que predominava nos centros urbanos).
·
A segunda razão se relacionava mais com o mercado
internacional, que era principalmente abastecido pelos produtos do oriente. O
grande número de intermediários tornava os produtos extremamente caros.
·
Podemos considerar como um terceiro fato a falta de
moedas na Europa, que eram escoadas para o Oriente no pagamento dos produtos e
das especiarias.
Esses
empecilhos ao crescimento só seriam superados se fossem encontrados novos
mercados de produtos (principalmente alimentícios) e também novos consumidores
de artesanato, atividade principal naquele período.
Breve Panorama
da Europa Mediterrânea na Época
Nos séculos XIII e XIV a peste negra dizimou mais de
um terço da população européia, a fome, invadiu os campos, a Igreja Católica
estava dividida e enfrentando algumas dissidências, inclusive pela diferença
entre a opulência de setores eclesiásticos e a pobreza do povo. O humanismo
estava surgindo a partir da Inglaterra, com ênfase no Homem e na esfera
"imperfeita" das coisas da Terra.
Um Apanhado
geopolítico da Europa Mediterrânea no início do século XV.
Europa
Mediterrânea no Século em Questão
A
grande mudança em termos políticos na passagem para o século XV foi sem dúvida
a formação das chamadas monarquias nacionais surgidas com a crise do
feudalismo, enfraquecendo o poder local da nobreza e abrindo espaço para a ação
política dos reis.
Podemos
aqui enumerar alguns fatores que contribuíram para essa centralização do poder:
·
Desenvolvimento Comercial e
Urbano: A burguesia, nova classe social ligada ao comércio, tinha
interesse nessa centralização do poder e numa unificação nacional, já que
desejavam uma uniformização dos pedágios, pesos e medidas, moedas, ou seja,
queriam ter condições para a conquista do mercado, principalmente o
internacional.Além disso, a incorporação desses novos mercados poderia ser a
única maneira de superar a crise do crescimento desse século XV.
·
A Nobreza Busca a Ajuda do
Rei: As condições extremamente desfavoráveis do final do século XIV e
fatores como a peste por exemplo, que foi responsável pela morte de
praticamente um terço da população européia, fizeram com que a escassez de mão
de obra se tornasse um problema grave. Dessa maneira a opressão dos servos
cresceu demais, o que certamente desencadeou uma série de revoltas
camponesas.Com isso, a nobreza se sentiu obrigada a pedir o auxílio do rei, que
numa situação como essas surgia como a única figura capaz de articular a
aristocracia contra a massa.
Outros
fatores também podem ser considerados como relevantes:
Península
Ibérica:
·
Existia a tradição da hereditariedade do poder real.
·
O desenvolvimento do individualismo durante o
renascimento pode ter criado a imagem de um rei verdadeiramente representante e
protetor da nação.
A Península passava por um momento de extrema
importância em sua história. Após a expulsão dos muçulmanos da península
formaram se os chamados estados independentes, como Aragão, Castela, Leão e
também Navarra. Houve a separação de Leão do Estado de Portugal e da fusão dos
quatro reinos restantes formou-se a Espanha em 1492.
Itália:
·
As chamadas cidades - estado italianas já haviam
conseguido sua autonomia dos senhores feudais no final do século XIII. A
concorrência pelo mercado internacional gerava continuamente conflitos entre
elas.
·
A economia, apesar dos conflitos, era dinâmica e
aberta ao mar. Uma prova disso é o acervo artístico gerado pelos excedentes da
economia, que a tornaram o "berço do Renascimento Cultural",
produzindo expoentes como Leonardo, Toscanelli, Michelangelo, e preparando o
caminho para Galileu e Bruno.
Por uma ou outra razão, a Itália, que mostrava condições para fazer a passagem
do capitalismo comercial ao capitalismo industrial, não o fez. De outro lado,
os conflitos contínuos entre as cidades, em particular entre Veneza (que
dominava o comércio com o oriente) e as cidades da costa ocidental (Genova,
Florença) acabou por dirigir o dinheiro dos bancos italianos à Península
Ibérica, contribuindo para a realização dos "experimentos" do Infante
D. Henrique.
O Fim da Idade Média e a Ordem de Cristo
Os
interesses econômicos para que se iniciasse uma expansão comercial e marítima
expressavam os desejos e objetivos da burguesia mercantil, ansiosa em aumentar
seus lucros. Já no plano político os interesses dessa classe eram o de apoio a
centralização.
Mas
onde conseguir um capital inicial para isso se até meados do século XV Portugal
era um reino relativamente pobre?? (A riqueza nessa época se concentrava
basicamente na Itália, Alemanha e Flandres)
Esse
capital inicial, pelo menos uma grande porcentagem dele, veio provavelmente da
rica Ordem de Cristo (antiga Ordem dos Templários)
Em
1098 Jerusalém foi conquistada pelos cristãos na primeira Cruzada, e em 1116
estava novamente cercada pelos árabes. Foi quando dois nobres franceses fizeram
um voto de perpétua pobreza criando assim a ordem dos Cavaleiros Pobres de
Cristo que depois veio a se chamar Ordem dos Templários.
A
Ordem dos Templários era formada por monges guerreiros, suas normas eram
secretas e só conhecidas na integridade pelo grão mestre da Ordem.
Tinham
uma estrutura rígida: os iniciantes não tinham acesso às regras e conhecimentos
da ordem. Tais conhecimentos somente lhes eram transmitidos à medida em que
fossem promovidos, sempre em batalha.
Nessa
época de Cruzadas os Templários receberam muitas propriedades por doação e
herança, iniciando-se assim uma intensa atividade econômica. No interior de
seus feudos introduziram algumas novidades como a criação de linhagem de cavalos
em estábulos limpos. Instalaram uma rede de postos bancários ao longo de vários
países: peregrinos que estavam a caminho da terra Santa podiam depositar seus
bens em um certo ponto de partida, recebendo uma carta de crédito com o direito
de retirar o equivalente em moeda local em outro posto.
Dessa
forma conseguiram gerar quantias astronômicas de dinheiro e bens.
Com
a queda da cidade Santa em 1244 e a expulsão das tropas cristãs na Palestina em
1291, a Ordem acabou sendo extinta por toda a Europa, menos em Portugal.
D.
Deniz (1261-1325) decidiu garantir a permanência da Ordem em terras portuguesas
sugerindo uma doação formal de todos os seus bens à coroa, mas nomeando um
templário para cuidar deles. Em 1317 D. Deniz transferiu todo esse patrimônio
para uma nova organização: A Ordem de
Cristo. O Ensino de Ciência e as Universidades universidade de Salamanca na Espanha
Pode
ser dito que, o que conhecemos por Física hoje, só começou quando Galileu
Galilei (1564-1642) implantou pela primeira vez o chamado método científico.
Muitos historiadores apontam o ano de 1642 (ano da morte de Galileu e
nascimento de Newton) como sendo o ano de nascimento da chamada Ciência
Moderna.
Antes
disso temos estudos na área de Astrologia, Matemática, mas muito mais desenvolvidos
do que comumente se imagina. Pode se ter uma idéia mais clara consultando o
trabalho escrito por Ptolomeu, em c. 150 DC conhecido como Almagest
(O Maior). A Matemática era considerada uma das "artes maiores",
juntamente com a Música e a Teologia. Era costumeiramente incluída no currículo
de Medicina (Santillana68) nas Universidades européias em geral. Na Península
Ibérica é possível que a Matemática de Ptolomeu tenha chegado mais tarde por
obra dos conflitos entre muçulmanos e cristãos, já que foi através dos árabes
que Almagest foi recuperado da Biblioteca de
Alexandria.
Por
exemplo em Portugal não existe nenhum tipo de documentação referente ao estudo
de tais ciências antes do século XV. Nessa época em Portugal utilizava-se ainda
a numeração romana; a numeração indo – arábica só foi introduzida no século em
questão.
A
Espanha parecia estar um pouco mais adiantada, já apresentando estudos
referentes a Astronomia e Geometria.
É
realmente possível que conhecimentos práticos desse tipo possam ter chegado à
Portugal trazidos por astrólogos e cartógrafos judeus, como veremos, mas não às
Universidades portuguesas.
No
que se refere ao ensino, a instrução nos países cristãos ficava quase que em
sua totalidade a cargo do clero, que o fazia em algumas catedrais, mosteiros e
até mesmo universidades dirigidas pelo próprio clero. (Coimbra96)
Na
Universidade de Coimbra ensinava-se
Direito e Medicina (o currículo de Medicina muitas vezes incluía a Matemática).
Não se ensinava a Astronomia, por exemplo, por julgarem ser uma ciência de
pouca utilidade pelo menos até aquele momento.
Nessa
mesma época estava sendo ensinada a Astronomia na Universidade de Salamanca, na Espanha.
Existia
uma certa diferença entre os principais centros Ibéricos de estudo da época:
A
Escola Muçulmana de Córdoba e Sevilla tinha uma boa cultura de Aritmética,
Álgebra e Geometria, mas as tratavam como ciências autônomas.
Na
Escola Cristã de Toledo praticamente todo o estudo na área de Matemática girava
em torno de sua aplicação à Astronomia.
E
na Escola Portuguesa, fundada por D. Deniz (1261-1325), o estudo existia, mas
era ainda mais restrito, visando apenas a aplicação de tais conhecimentos à
náutica.
O
Desenvolvimento da Instrumentação sob Influência da Náutica.
Anteriormente a esse período a navegação era na maior parte de cabotagem, ou
seja, seguindo o contorno da costa. Entretanto, na tentativa de contornar a
costa africana os navegadores se viram obrigados a se afastar mais do
continente, uma vez que já não se conseguia mais, a partir de um certo ponto,
navegar perto da costa. Isto ocorria porque os ventos ali eram contrários, e
impediam os navegantes a prosseguir a viagem. Era necessário se distanciar um
pouco mais da costa para se conseguir bons ventos e, portanto, continuar a
viagem. (manobra que viria a se chamar "A Volta do Mar")
Nessas
novas viagens, os pilotos tiveram que recorrer ainda mais aos astros a fim de
determinarem a latitude. Sabemos que o ponto de referência utilizado para medir
a latitude era a estrela Polar (Coimbra96). Mas esse método de orientação por
meio da estrela polar já não era mais aplicável quando se ultrapassava a linha
do Equador. Os cosmógrafos propuseram então medir a latitude pela observação da
altura do sol na sua passagem pelo meridiano do lugar. Existiam métodos antigos
para essas medidas, como as tábuas das Índias e o astrolábio, que se
desenvolveram muito nesse período.
O
astrolábio
é um instrumento de origem grega, muito utilizado pelos árabes para diversos
fins e cujo funcionamento estava minuciosamente descrito na obra "Libros
del Saber de Astronomia" de Afonso X.
Os
portugueses aparentemente utilizaram pela primeira vez esse método de
determinação de latitude pelo judeu José Vizinho, que era um dos cosmógrafos de
D.
João II, em uma viagem a Guiné em 1485.(Coimbra96)
Para
isso José Vizinho necessitava de uma tábua de declinações do Sol, e a conseguiu
provavelmente com Abraão Zacuto, professor na universidade de Salamanca
(Coimbra96). É possível que já existissem em Portugal desde as viagens de D.
Pedro, irmão do Infante D. Henrique.
José Vizinho mantinha relações científicas com Abraão Zacuto, uma vez que esse fora seu mestre em Salamanca (Coimbra96). Mais tarde, em 1492, o próprio Zacuto veio para Lisboa para também ocupar o cargo de cosmógrafos do rei.
José Vizinho mantinha relações científicas com Abraão Zacuto, uma vez que esse fora seu mestre em Salamanca (Coimbra96). Mais tarde, em 1492, o próprio Zacuto veio para Lisboa para também ocupar o cargo de cosmógrafos do rei.
Provavelmente
o astrônomo só veio para Portugal após a expulsão dos Judeus da Espanha, mas o
que se sabe é que ele colaborou muito com os cosmógrafos portugueses (Coimbra96).
CRISTÓVÃO COLOMBO
O Almirante do Mar Oceano
Cristóvão
Colombo era cardador de lã, cartógrafo, vendedor de livros, comprador de açúcar
e marinheiro; era alto, bonito e de nariz aquilino; tinha as maçãs do rosto
salientes, a face comprida salpicada de sardas, cabelos avermelhados, olhos
azuis e um sorriso amável, que não refletia, porém, nenhum sentido humorístico
da vida. Grande conversador que não desdenhava a auto-exaltação, era um homem
decente, apesar da freqüência de suas descaídas, e a sua Descoberta da América
foi o mais importante feito de coragem individual de toda a História.
Algumas
das coesas que sabemos sobre Colombo são falsas. Por exemplo, o mito de que só
ele acreditava que a Terra era redonda. Toda pessoa culta tinha essa crença!
Ensinavam-na as escolas e as universidades. Havia mesmo, para quem quisesse
comprar, globos terrestre, não muito diferentes dos que existem hoje em dia.
Além disso, ao contrário do que indicam os retratos da época, Colombo nunca
recorreu ao astrolábio para orientar-se. Navega por intuição e confiado em Deus
e ninguém como ele para acertar com a entrada de um porto.
A
partida de Colombo para o Ocidente foi uma empresa arriscada. Não foi porém,
uma decisão tomada às cegas. Os portos da Europa andavam cheios de história de
indivíduos que haviam efetuado tal viagem, no todo ou parte. Da Rainha da Sabá
dizia-se que, viajando para o poente, transpuser a Espanha e adentrara-se pelo
mar até à altura do Japão. Sete bispos portugueses, fugindo a perseguições,
tinham ido parar numa ilha não distante de Cuba a que deram o nome de Antilha.
E, naturalmente, Leif Ericsson já aportara são e salvo, com os seus patrícios
noruegueses, numa parte do continente americano hoje conhecida por Nova
Inglaterra.
Havia
também um mapa traçado por um físico e astrônomo italiano chamado Toscanelli,
considerado uma obra sólida e digna de confiança. Nele já aparecia a América
corretamente situada. Além do que corpos humanos levados pela maré tinha dado
às praias do Açores. Pareciam orientais, mas na verdade eram caraíbas. Troncos
de árvores, que não podiam proceder da África, e nos quais se viam entalhaduras
feitas à mão, tinha sido recolhidos do mar, assim como algas marinhas que só
crescem na América.
Cristóvão
Colombo nasceu em Gênova, em 1451. Era o filho mais velho de um acomodado
tecelão e taberneiro. De suas atividades até aos 23 anos sabe-se apenas que
cardara lã, manejara o tear e saíra para o mar. Sendo Gênova uma grande
cidade-estado de comércio marítimo, cujo porto vivia coalhado de navios, um
jovem ambicioso teria ali oportunidade de aprender as artes da navegação e da
cartografia.
Existem
relatos escritos de vários cruzeiros de Colombo, mas o mais feliz de todos foi
o que o levou às praias de Portugal. Ia, como marinheiro, a bordo de um navio
rumo ao Oriente quando o barco foi atacado e afundado por uma frota portuguesa.
Embora ferido, Colombo jogou-se ao mar, nadando até à costa de Lagos, de onde
mais tarde seguiu para Lisboa. Corria o ano de 1476. Lisboa era então um lugar
excelente para todos os homens que sonhavam com o mar, pois para ali convergiam
os marinheiros que se julgavam capazes de abrir novas rotas. Aí encontravam
estímulo e abrigo os mais arrojados projetos de exploração. E era também onde
se aprendia matemática, astronomia e construção naval — conhecimentos
indispensáveis a um navegante completo. Colombo e o seu irmão Bartolomeu
abriram um escritório para os desenhos de mapas e não se deram mal. Depois
Colombo casou-se com uma rica herdeira que tudo fez para prende-lo à terra e
converte-lo em pacato ornamento da comunidade.
Ele,
porém, aferrava-se à sua idéia, ou melhor, à obsessão de que poderia chegar ao
Oriente pelo caminho do Ocidente. Era um pensamento que o absorvia, não lhe
dava trégua. Esta é a diferença entre Colombo e os seus contemporâneos. Estava
convencido. Ele sabia. Queria partir. Mas seria forçado a esperar muito, antes
que alguém se dispusesse a fornecer-lhe navios. E enquanto aguardava, falava de
sua idéia a quem quer que quisesse ouvi-lo.
D.
João II, Rei de Portugal, interessou-se pelo assunto e submeteu o projeto de
Colombo a uma junto de sábios. Estes condenaram a idéia. O Rei, porém, só
deixou de lado o genovês quando Bartolomeu Dias, dobrando o Cabo da Boa
Esperança, abriu o caminho de leste aos fabulosos tesouros do Oriente. Desde
então, D, João II se desinteressou por completo do caminho do Ocidente.
Quando
lhe morreu a esposa, Colombo gastou a maior parte de suas economias nas
suntuosidades do enterro. Em seguida, embarcou para a Espanha. Mas Fernando e
Isabel, empenhados numa dispendiosa guerra com os mouros, deram apenas meio
ouvido à proposta do genovês. A Rainha, entretanto, tomou-se imediatamente de
simpatia por ele, concedendo-lhe uma pensão — espécie de depósito por conta de
seus futuros empreendimentos — enquanto a junta de notáveis do Reino estudava o
assunto.
A
pensão não montava a muito, porém era suficiente para que o não desanimasse.
Depois de um ou dois anos, porém, a pensão foi suspensa e ele foi obrigado a
manter-se durante os oito anos seguintes com o produto da venda de livros e dos
mapas que confeccionava, enquanto aguardava o fim da guerra com os mouros. Seus
cabelos ficaram brancos e foi atacado pelo artritismo. Sua capa e os seus
sapatos eram tão esburacados que não lhe permitiam sair à rua nos dias de
chuva. Mas não desesperou e continuou a falar sempre no seu sonho.
Em
janeiro de 1492, desiludido com a Espanha, resolveu tentar a sorte na França.
Em caminho, fez escala num mosteiro junto ao porto de Palos de La Frontera,
onde manteve longa conversação com um prior. Este, impressionado com os seus
planos, conseguiu-lhe uma audiência com a Rainha. Embora os sábios de Isabel já
houvessem anteriormente desaprovado a proposta de Colombo, a Rainha o ouviu
atentamente e declarou que a idéia lhe era agradável. Achou, contudo, que o
preço do descobrimento era um pouco alto: Colombo pedia para si e seus
herdeiros o título de Almirante do Mar Oceano, o cargo de vice-rei de todas as
terras que descobrisse e dez por cento sobre todos os tesouros que arrecadasse.
Como Isabel fizesse restrições a tais termos, Colombo agradeceu-lhe a atenção e
retomou o caminho da França. Depois de seis anos de espera, ainda não estava para
regateios.
Entretanto,
Luís Santágenel, que tinha a seu cargo o tesouro privado da Corte, incitou
Isabel: "Seja qual for o dinheiro de que Vossa Majestade venha a precisar,
eu o suprirei pessoalmente. Que pode Vossa Majestade perder? E considere o que pode
ganhar em troca: milhares de convertidos à nossa Santa Fé, glória para a
Espanha e ouro." A Rainha imediatamente despachou emissários em busca do
viajante.
As
três caravelas de Colombo — a Santa Maria, a Pinta e a Niña — eram barcos
pequenos mas sólidos que, com bom tempo, faziam a média de seis a sete nós,
podendo também navegar a remo durante as calmarias. Havia em cada nau uma
cabina para o capitão, mas a tripulação dormia na coberta. Uma vez por dia
fazia-se fogo no fogão a lenha, de onde saía a comida quente, recendente a
alho, que era servida em dois turnos ao pessoal de bordo. Media-se o tempo por
meio de ampulhetas que os serventes de convés viravam regularmente.
Nas
três caravelas iam uns 87 homens, entre os quais três médicos, um criado para Colombo,
um intérprete e um enviado da Rainha para inventariar o ouro e as pedras
preciosas que fossem embarcadas. A música era provida principalmente pelos
serventes do convés que entoavam canções populares quando serviam as refeições
ou viravam as ampulhetas. À noite a tripulação se reunia e cantava hinos
religiosos.
Ao
contrário do que revela a maioria das histórias, esses marujos não tinham saído
das cadeias da Espanha, se bem que um deles tivesse cometido um assassinato. Na
sua maioria, eram bons rapazes de aldeia que haviam aprendido a arte de navegar
saindo para o mar sempre que se lhes apresentasse uma oportunidade.
A
perícia de Colombo, como marinheiro, tem despertado a admiração de quantos lhe
sucederam nas lides da navegação. Cometeu alguns erros, é verdade, mas eles
foram devidos em grande parte à falta de instrumentos adequados. Os
portugueses, nas suas tentativas de descobrir a América, navegavam
demasiadamente para o norte, onde os apanhavam os temporais bravios do
Ocidente; Colombo, porém, rompeu diretamente para o sul, apanhando assim os
ventos propícios que haviam de conduzi-lo para o outro lado do oceano. Levou
exatamente 33 dias para fazer a travessia. Ao darem com as águas cobertas de
algas do Mar de Sargaços, os outros capitães insistiram com ele para que
mudasse de rumo e fosse à procura de uma ilha. Colombo, porém, manteve-se
irredutível, e continuou a navegar na direção do poente. Só uma vez alterou o
rumo no sentido do sul — isto para acompanhar um bando de pássaros que, em sua
acertada opinião, devia estar voando rumo à terra. Não fora essa mudança de
direção, a frota teria ido para nos recifes da Flórida.
A
10 de outubro, quando a tripulação, que nunca passara tantos dias velejando em
alto-mar, ameaçou amotinar-se, ele a reuniu e prometeu: "Se dentro do dois
dias não encontrarmos terra, voltarei."
A
12 de outubro, a flotilha pela primeira vez tocava terra na Ilha de Guanahani —
do grupo da Bahamas — a que Colombo deu o nome de San Salvador (hoje ilha de
Watlings, nas Bahamas). Ali ajoelhou-se para render graças ao Senhor, e com
muita solenidade tomou posse da terra em nome dos Reis Católicos Fernando e
Isabel. os naturais, nus, simples e amistosos, acompanharam atentamente a
cerimônia.
"São
tão ingênuos, tão livres e despreocupados do que têm", escreve Colombo,
"que ninguém que possuem e mostram tanto amor no oferecimento que
dir-se-ia porem na amizade todo o coração, e ficam contentes com a menor
bagatela que se lhes de." Esses indígenas foram identificados como Tainos,
raça já desaparecida.
A
respeito dos dois primeiros dias em terra, escreveu Samuel Morison em sua
biografia de Colombo: Assim terminaram às 48 horas da mais maravilhosa
experiência já vivida por qualquer homem do mar. Outras descobertas terão sido
mais espetaculares do que a desta pequena ilha plana e arenosa. Mas foi ali que
o oceano pela primeira vez libertou a cadeia dos acontecimentos, como o
profetizara Sêneca, e revelou o segredo que vinha desconversando os europeus
desde que estes começaram a inquirir o que se ocultava para além dos horizontes
ocidentais. San Salvador, surgindo do mar ao cabo de 33 dias de navegação para
o poente, superava de muito as passadas aventuras. Cada árvore, cada planta em
que os espanhóis punham os olhos, constituía para eles novidades, e os naturais
— falando uma língua desconhecida, e diferentes de todas as raças de que tenha
tido notícia os maiores iniciados em relatos de viajantes, de Heródoto a Marco
Pólo — eram não somente estranhos, mas coisa com que absolutamente não
contavam. Nunca mais poderá agora um mortal nutrir a esperança de recapturar o
assombro, a maravilha desses dias de outubro de 1492.
De
San Salvador, Colombo navegou para o sul, descobriu nove ilhas entre as quais
Cuba, onde os homens fumavam charutos, colocando uma das pontas do nariz e
inalando profundamente. Por fim, desembarcou em Hispaniola — a ilha em que se
acham hoje situados o Haiti e a República Dominicana — e ali não pode mais
conter a tripulação, que violentou mulheres e roubou-lhes ornamentos. Ali
Colombo decidiu deixar em terra uma colônia de 40 homens num local a que deu o
nome de Isabel, na costa setentrional da ilha. (Não tornou, porém, a vê-los e
presume-se que tenham sido mortos pelos índios.) Colombo dirigiu-se então para
o norte, aproveitando os ventos do oeste, e, por fim, chegou à Espanha.
O
seu relato dando conta de sua aventura produziu sensação. Sua marcha triunfal
pelas cidades espanholas, exibindo o ouro, os papagaios e os índios que
seqüestrara no Novo Mundo foi o momento culminante de sua carreira. Mas quando
se ajoelhou diante do Rei Fernando e da Rainha Isabel e eles o convidaram a
sentar-se a seu lado, seu orgulho não teve limites. Deram-lhe tudo quanto tinha
prometido e insistiram com ele para que se aprestasse para nova partida.
A
prova do ovo de Colombo, de que tanto se fala, verificou-se por ocasião de um
banquete que lhe foi oferecido pelo Grande Cardeal da Espanha. Um dos convivas,
já embriagado, disse que se Colombo não tivesse feito a descoberta, outro,
naturalmente um espanhol, a faria. Em resposta, Colombo apanhou um ovo e
desafiou os circunstantes para o colocarem de pé sobre a mesa. Ninguém
conseguiu e Colombo, com golpe suave, quebra ligeiramente a casca do ovo numa
das extremidades e este se mantém na vertical. Fez assim compreender a todos
que, uma vez mostrando o caminho, como ele o fizera, nada era mais fácil do que
repetir a façanha.
De
certo modo, a segunda viagem constituiu para Colombo um desastre, porque veio
revelar o erro grave em que incorrera, deixando uma colônia em Isabel.
Tornou-se evidente ainda que não sabia enfrentar a insubordinação e que tratava
alternadamente os seus homens com demasiada brandura ou excessiva brutalidade.
Ao
empreender a terceira viagem, foi acompanhado por um juiz que declarou culpado
de vários crimes. Voltou para a Espanha a ferros, mas a Rainha, indignada com
isto mandou pô-lo imediatamente em liberdade. Entretanto, quando Colombo
reclamou o décimo que lhe fora prometido antes da primeira viagem, os Reis
fizeram ouvidos de mercador. Finalmente, em 1502, deram-lhe quatro navios para
a sua quarta e última viagem. Desta vez ele descobriu o continente
sul-americano, mas em virtude de sua preocupação de encontrar uma passagem para
o Pacífico, deixou para trás duas coisas que muito poderiam recomendá-lo à
estima da Corte — os pesqueiros de pérolas nas costas de Honduras e uma das
mais ricas minas de ouro do mundo. Ademais, os homens se amotinaram e por pouco
não o mataram. Reduzido ao leito pela artrite, com os navios avariados, foi
forçado a aguardar uma expedição de socorro.
Nesse
ínterim, deixa de existir a sua boa amiga, a Rainha, e Fernando, que não morre
de amores por ele, não tomou conhecimento de seus pedidos de dinheiro para
pagamento da tripulação. Finalmente, ainda arrasado pela artrite, foi procurar
o Rei. Fernando ofereceu-lhe em troca do título de Almirante do Mar Oceano e
dos demais privilégios, um ducado lucrativo. Colombo recusou. Ou tudo ou nada.
Ficou sem nada.
No
fim de seus dias, pensava ainda haver atingido as Índias, e que o palácio do
Grão-Cã devia estar em algum lugar na Costa Rica. Não queria apenas riquezas;
queria também descobrir o caminho que o conduziria aos lugares referidos por
Marco Pólo — aos palácios habitados por sutões, com todas as delícias e
confortos da civilização.
Eis,
em suma, a história do homem que acresceu, direta ou indiretamente, aos
domínios da Espanha mais terras do que os seus reis jamais imaginaram
existissem, e cujo descobrimento voltou para o Ocidente os olhares da Europa.
Morre
Colombo aos 55 anos de idade, pobre e sem ter ninguém para lhe chorar a morte,
porém a sua figura heróica cada vez mais se agiganta com passar dos séculos.