terça-feira, 24 de outubro de 2017

Guerra do Paraguai (1865-1870)


 
Introdução
Desde sua independência em 1811, o Paraguai realizou uma trajetória política absolutamente singular no contexto dos países latino-americanos. Seu primei­ro presidente José Gaspar Rodrigues de Francia, através de uma enérgica ação governamental, desenvolveu uma estrutura socioeconômica voltada para os interesses da população e com vistas à plena independência do país. Distribuiu ter­ras aos camponeses, combateu a oligarquia parasitária, construiu inúmeras esco­las para o povo. Em 1840 o Paraguai era uni pais sem analfabetos.
 
Sucessores prosseguiram sua obra
Francia morreu em 1840. Seus sucessores, Antônio Carlos López (1840-1862) e seu filho, Francisco Solano López (1862-1870), prosseguiram sua obra, buscan­do fazer do Paraguai um país soberano e livre da exploração do capitalismo in­ternacional.
 
O projeto paraguaio desagradava a Inglaterra
O projeto paraguaio de emancipação desagradava profundamente à Ingla­terra, que tinha interesse em manter todos os países latino-americanos como sim­ples fornecedores de matérias-primas e consumidores dos seus produtos industrializados. Percebendo que o Paraguai não se enquadrava no esquema pretendido pelo seu capitalismo industrial, a Inglaterra financiou, com todo empenho, o Brasil, a Argentina e o Uruguai quando esses países, por intermédio do Tratado da Tríplice Aliança, decidiram lutar contra o Paraguai. Foi o mais longo e san­grento conflito armado já ocorrido na América do Sul.
 
Por que tanto ódio do Paraguai?
Diante de um Brasil dominado por um império escravocrata e de urna Argentina dominada por uma oligarquia de latifundiários e de mercadores, dois países subordinados ao imperialismo inglês, o Paraguai era urna odiosa exceção, principalmente para os interesses das potências capitalistas.
Era preciso destruir o regime paraguaio, Que promovia um desenvolvi­mento independente, que em 1840 já havia acabado com o analfabetismo, que se fechava à penetração da indústria inglesa, que desenvolvia uma gran­de indústria artesanal própria.
No quadro de miséria, dependência econômica e poder latifundiário, característico da América Latina, as potências não podiam aceitar as diferenças incomuns do Paraguai Estado que nacionalizava as terras e o comércio exte­rior e promovia o ensino obrigatório e gratuito para todas as classes.
Para os políticos e intelectuais argentinos e brasileiros educados na Eu­ropa à custa do suor e do sangue de escravos e camponeses miseráveis, o Paraguai era a barbárie (sociedade não civilizada rude, grosseira). Era neces­sário integrar o Paraguai à civilização, isto é, ao mercado mundial controlado pelas potências capitalistas.

Início da Guerra
Para o Brasil, o episódio que deu início ao conflito foi o aprisionamento, pelo governo paraguaio, em novembro de 1864, do navio brasileiro Marquês de Olinda, que navegava próximo a Assunção, com destino à província de Mato Grosso. O aprisio­namento do navio brasileiro foi a rea­ção do Paraguai contra a invasão brasileira do Uru­guai e a deposição do presidente Aguir­re, que era apoia­do por Solano López.
Iniciada em 1865, a Guerra do Paraguai prolon­gou-se por cinco anos, terminando em 1870.

Verdadeiros motivos
Acima de quaisquer motivos políticos ou reivindicações territoriais, o que verdadeiramente alimentou a Guerra do Paraguai foram questões de natureza econômica. Tal motivação está perfeitamente clara e pode ser percebido nas declarações de um dos chefes da Tríplice Aliança, o general Bartolomeu Mitre, presidente da Argentina: A República da Argentina está no imprescindível dever de formar aliança com o Brasil a fim de derrubar essa abominável ditadura de López e abrir ao comércio do mundo essa esplêndida e magnifica região que pos­sui, talvez, os mais variados e preciosos produtos dos trópicos.
Mas, para “abrir” o Paraguai ao “comercio do mundo” e explorar seus produtos tropicais era preciso planejar uma guerra, conquistar o país e destruir sua estrutura econômica que se tornava independente do capitalismo internacio­nal. A custa do sangue de milhares de vidas humanas, esse objetivo foi atingido.
 
Consequências da guerra
Para se ter uma ideia da extrema crueldade que caracterizou a Guerra do Paraguai, basta dizer que, do lado brasileiro, morreram aproximadamente 100 mil combatentes. Do lado paraguaio, muito mais vidas foram sacrificadas. An­tes da guerra, a população total do país perfazia 800 mil pessoas, Depois da guer­ra, essa população reduziu-se a 194 mil pessoas, isto é, 75,7% dos paraguaios foram exterminados. Da população masculina adulta, sobreviveram tão-somen­te 0,5%. Assim, o Paraguai, que fora um próspero país, era, agora, um gran­de cemitério.
Terminada a guerra, o império brasileiro começou a sentir as consequências do envolvi­mento brasileiro em tão sangrento confli­to:
  • A economia ficou fortemente abala­da em virtude dos prejuízos da guer­ra, tornando-se extremamente de­pendente dos em­préstimos efetua­dos junto à Ingla­terra.
  • O Exército brasileiro passou a as­sumir posições contrárias à socie­dade escravista brasileira e a de­ mostrar simpatia pela causa republicana Isso se explica, em parte, pela própria composição popular do Exército durante a guerra: grande parte das tropas combatentes era formada por escravos negros e pela gente humilde do povo.

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