Introdução
Desde
sua independência em 1811, o Paraguai realizou uma trajetória política
absolutamente singular no contexto dos países latino-americanos. Seu primeiro
presidente José Gaspar Rodrigues de Francia, através de uma enérgica ação
governamental, desenvolveu uma estrutura socioeconômica voltada para os
interesses da população e com vistas à plena independência do país. Distribuiu
terras aos camponeses, combateu a oligarquia parasitária, construiu inúmeras
escolas para o povo. Em 1840 o Paraguai era uni pais sem analfabetos.
Sucessores prosseguiram sua obra
Francia
morreu em 1840. Seus sucessores, Antônio Carlos López (1840-1862) e seu filho,
Francisco Solano López (1862-1870), prosseguiram sua obra, buscando fazer do
Paraguai um país soberano e livre da exploração do capitalismo internacional.
O projeto paraguaio desagradava a Inglaterra
O
projeto paraguaio de emancipação desagradava profundamente à Inglaterra, que
tinha interesse em manter todos os países latino-americanos como simples
fornecedores de matérias-primas e consumidores dos seus produtos
industrializados. Percebendo que o Paraguai não se enquadrava no esquema
pretendido pelo seu capitalismo industrial, a Inglaterra financiou, com todo
empenho, o Brasil, a Argentina e o Uruguai quando esses países, por intermédio
do Tratado da Tríplice Aliança, decidiram lutar contra o Paraguai. Foi o mais
longo e sangrento conflito armado já ocorrido na América do Sul.
Por que tanto ódio do Paraguai?
Diante
de um Brasil dominado por um império escravocrata e de urna Argentina dominada
por uma oligarquia de latifundiários e de mercadores, dois países subordinados
ao imperialismo inglês, o Paraguai era urna odiosa exceção, principalmente para
os interesses das potências capitalistas.
Era
preciso destruir o regime paraguaio, Que promovia um desenvolvimento
independente, que em 1840 já havia acabado com o analfabetismo, que se fechava
à penetração da indústria inglesa, que desenvolvia uma grande indústria
artesanal própria.
No
quadro de miséria, dependência econômica e poder latifundiário, característico
da América Latina, as potências não podiam aceitar as diferenças incomuns do
Paraguai Estado que nacionalizava as terras e o comércio exterior e promovia o
ensino obrigatório e gratuito para todas as classes.
Para
os políticos e intelectuais argentinos e brasileiros educados na Europa à
custa do suor e do sangue de escravos e camponeses miseráveis, o Paraguai era a
barbárie (sociedade não civilizada rude, grosseira). Era necessário integrar o
Paraguai à civilização, isto é, ao mercado mundial controlado pelas potências capitalistas.
Início da Guerra
Para o
Brasil, o episódio que deu início ao conflito foi o aprisionamento, pelo
governo paraguaio, em novembro de 1864, do navio brasileiro Marquês de Olinda,
que navegava próximo a Assunção, com destino à província de Mato Grosso. O
aprisionamento do navio brasileiro foi a reação do Paraguai contra a invasão
brasileira do Uruguai e a deposição do presidente Aguirre, que era apoiado
por Solano López.
Iniciada
em 1865, a Guerra do Paraguai prolongou-se por cinco anos, terminando em 1870.
Verdadeiros motivos
Acima
de quaisquer motivos políticos ou reivindicações territoriais, o que verdadeiramente
alimentou a Guerra do Paraguai foram questões de natureza econômica. Tal
motivação está perfeitamente clara e pode ser percebido nas declarações de um
dos chefes da Tríplice Aliança, o general Bartolomeu Mitre, presidente da
Argentina: A República da Argentina está
no imprescindível dever de formar aliança com o Brasil a fim de derrubar essa
abominável ditadura de López e abrir ao comércio do mundo essa esplêndida e
magnifica região que possui, talvez, os mais variados e preciosos produtos dos
trópicos.
Mas,
para “abrir” o Paraguai ao “comercio do mundo” e explorar seus produtos
tropicais era preciso planejar uma guerra, conquistar o país e destruir sua
estrutura econômica que se tornava independente do capitalismo internacional.
A custa do sangue de milhares de vidas humanas, esse objetivo foi atingido.
Consequências da guerra
Para
se ter uma ideia da extrema crueldade que caracterizou a Guerra do Paraguai,
basta dizer que, do lado brasileiro, morreram aproximadamente 100 mil
combatentes. Do lado paraguaio, muito mais vidas foram sacrificadas. Antes da
guerra, a população total do país perfazia 800 mil pessoas, Depois da guerra,
essa população reduziu-se a 194 mil pessoas, isto é, 75,7% dos paraguaios foram
exterminados. Da população masculina adulta, sobreviveram tão-somente 0,5%.
Assim, o Paraguai, que fora um próspero país, era, agora, um grande cemitério.
Terminada
a guerra, o império brasileiro começou a sentir as consequências do envolvimento
brasileiro em tão sangrento conflito:
- A economia ficou fortemente abalada em virtude dos prejuízos da guerra, tornando-se extremamente dependente dos empréstimos efetuados junto à Inglaterra.
- O Exército brasileiro passou a assumir posições contrárias à sociedade escravista brasileira e a de mostrar simpatia pela causa republicana Isso se explica, em parte, pela própria composição popular do Exército durante a guerra: grande parte das tropas combatentes era formada por escravos negros e pela gente humilde do povo.
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